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Antigo IP5 – de via rápida a estrada da morte

Foram quase 20 anos de pesadelo. O asfalto sinuoso desde Aveiro, com as montanhas da Beira-Alta, e a ligação a Espanha via fronteira Vilar Formoso, marcaram o fulgor do progresso. Uma obra emblemática pela sua envergadura, mas que viria a enlutar muitas famílias.

Desde cedo começaram a surgir inúmeros problemas e defeitos de construção. Um projeto mal concebido, curvas apertadas e mal estruturadas, marcações horizontais confusas, e sinalização pouco clara, foram fatores que contribuíram para que esta fosse conhecida como a estrada da morte, devido aos elevados índices de sinistralidade rodoviária, principalmente durante a década de 90 – altura em que começou a ser reivindicada a construção de uma autoestrada entre Albergaria e Vilar Formoso, que substituísse o perigoso traçado do IP5.

E não era para menos. Entre novembro de 1988 e junho de 1999 ocorreram quase três mil acidentes, dos quais resultaram 297 mortos. O ano de 1998 foi um dos mais trágicos da história da via rápida, durante o qual perderam a vida 48 pessoas.

Por consequência, viriam a ficar marcados na estrada vários pontos negros. Desde as subidas e descidas do Caramulo, entre Talhadas e Viseu, mais concretamente nas zonas de Reigoso e da Serra da Penoita (Vouzela); às da Guarda, entre Porto da Carne e Alvendre – era considerado o troço mais perigoso deste Itinerário Principal, devido às inclinações elevadas, seguidas de curvas apertadas, onde eram frequentes os acidentes com pesados – bem como as zonas do Carvoeiro (Albergaria-a-Velha), Pínzio (Pinhel), Chãs de Tavares e Fagilde (ambas freguesias de Mangualde).

Apesar da construção da via rápida Aveiro-Vilar Formoso só ter sido inscrita no Plano Rodoviário Nacional em 1985, este Itinerário Principal teve a sua inauguração em setembro de 1983, e permitiu substituir a N16 – uma estrada nacional já na altura considerada obsoleta.

O IP5 revelou-se uma opção saturada em termos de tráfego rodoviário desde o início. Se em 1990 o tráfego médio era de cinco mil veículos por dia, em 2000 esse número tinha triplicado.

Eis que surge então, em finais de setembro de 2006, a tão reivindicada A25, também designada Autoestrada das Beiras Litoral e Alta, com uma extensão total de 199 quilómetros, que liga a cidade portuária de Aveiro à fronteira de Vilar Formoso, servindo os distritos de Aveiro, Viseu e Guarda.

Embora alguns troços tenham sido construídos de raiz (nomeadamente a variante sul a Viseu), a maior parte desta autoestrada foi reconstruída “por cima” do antigo traçado do IP5. Em parte, devido a esse facto, a introdução de portagens na A25 em 2011, foi duramente contestada e revelou-se bastante controversa.

Apesar desta sobreposição em grande parte do seu percurso, ainda restaram alguns troços desta antiga estrada, que são hoje utilizados para trânsito local, e têm servido de alternativa para os condutores que querem evitar os pórticos de pagamento.

Feitas as contas, passando pelos cerca de 30 quilómetros do ex-IP5, um camião pode poupar 4 euros e um veículo ligeiro 1,60 euros, valores suficientemente apetecíveis para fazerem deste troço já desclassificado, um trajeto bastante utilizado.

Os resultados desta reconstrução do IP5 em autoestrada foram evidentes, tendo-se reduzido significativamente a sinistralidade rodoviária. A introdução dos radares contribuiu para uma drástica diminuição do número de transgressores em excesso de velocidade, além de terem sido uma boa fonte de rendimento para os cofres do Estado.

Num artigo publicado em 2005 pelo jornal britânico The Sunday Times, o IP5 foi considerado a terceira estrada mais perigosa do mundo, atrás apenas de uma na Bolívia e outra no sul de Espanha.

CRONOLOGIA – IP5/A25

Setembro de 1983 – Inaugurado o primeiro troço do IP5 (10km), entre Mangualde e o Nó de Prime, no concelho de Viseu.
o No final desse ano ficou concluída a Variante de Celorico da Beira.
1985 – Finalizado o primeiro troço na Beira Interior, entre Chãs de Tavares e Celorico da Beira.
1987 – Concluído o troço entre Talhadas e Albergaria-a-Velha.
o Em dezembro desse ano a via rápida chegou a Vilar Formoso criando-se, assim, o troço entre a vila fronteiriça e a cidade da Guarda.
Setembro de 1988 – É completado o troço entre Mangualde e Chãs de Tavares.
Outubro de 1989 – É a vez da ligação entre Celorico da Beira e a Guarda.
13 de setembro de 1991 – Ficou para último, o troço entre a A1 e Aveiro, construído de raiz em formato de autoestrada A25, tendo o restante percurso até Vilar Formoso sido inaugurado como via rápida IP5.
1998 – Anunciada a reconstrução total do IP5 sob a forma de autoestrada, o prolongamento da A25 já existente entre Albergaria (A1) e Aveiro, construção que implicaria a eliminação da maior parte da antiga estrada do IP5.
28 de abril de 2001 – Assinado o contrato de concessão para a construção da A25, tendo sido Vilar Formoso-Guarda o primeiro troço transformado em autoestrada.
Setembro de 2006 – altura em que o troço Aldeia-Mangualde foi inaugurado e a A25 concluída.

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