Skip to content Skip to main navigation Skip to footer

Covid-19: Da danceteria para o Facebook

“Aguiarenses pelo Mundo”. Organistas aguiarenses na Suíça e França fazem atuações musicais em direto para animarem seguidores

O setor da cultura, seja ela mais erudita ou popular, foi um dos mais afetados pela pandemia da covid-19. Por todo o mundo, os eventos, da forma como os conhecemos, com convívio social e aglomerado de pessoas, foram cancelados e continuam suspensos ou condicionados. Muitos artistas, profissionais ou amadores, ficaram sem trabalho. Alguns aproveitaram as redes sociais para continuar ligados ao público, tal como Victor e David. Os dois aguiarenses emigrantes, na Suíça e em França, habituados a animar a comunidade portuguesa nas salas de dança, passaram a dar música aos seus seguidores em direto no Facebook.

David Seixas

“Esta ideia de fazer os diretos surgiu-me durante a época de confinamento. Decidi então começar a fazer um direto todas as quintas feiras, por volta das 21 horas”, começou por contar David Seixas, que costuma fazer uma atuação com uma duração de 1h30. “O meu objetivo principal é divertir-me, tocando para as pessoas, como faço nos bailes”, revelou o teclista.

No “Afterwork Live Session by DavidSHOW”, nome que deu ao evento online, “toco música a pedido, publico vídeos das pessoas a dançarem e tento interagir, para no fim nos divertirmos todos juntos. A malta tem-me seguido e, semana após semana, têm havido mais participantes. É um grande prazer ver as pessoas contentes com a minha música”, declara.

David toca órgão e canta em bailes populares desde os 14 anos, na altura ainda a residia na Cortiçada, de onde é natural, e estudava em Aguiar da Beira. “Faz agora 23 anos”, relembra. Agora, aos 36 anos, vive na zona de Paris, em Versailles, desde 2007, com a esposa e o filho. “Aqui tenho tocado todos os fins de semana em restaurantes, danceterias e associações na comunidade portuguesa. Durante a semana sou condutor de autocarros”.

“A situação em França começa a normalizar”, após o confinamento provocado pela epidemia do novo coronavírus, “mas muitos estabelecimentos ainda estão encerrados”. “Os restaurantes portugueses e as danceterias onde costumo tocar ainda continuam fechados”, para desespero de David, que ansia por voltar a sentir o calor, de perto, do público.

Victor Tavares

Foi pelo mesmo motivo que Victor Tavares, na Suíça, também recorreu à ferramenta de transmissão de vídeo e som em direto daquela rede social. “Já tinha visto um músico ou outro a interpretar em direto. Decidi então anunciar uma atuação de duas a três horas no meu Facebook e, para meu espanto, os meus amigos começaram a reagir com comentários de incentivo e a partilhar esse primeiro mini concerto, que se deu no dia 5 de abril, domingo à tarde”.

“Fiquei surpreendido pela adesão e, como gostei da experiência, anunciei que no fim de semana seguinte faria outra atuação musical para animar as pessoas. Sentia que necessitavam um pouco de alegria”, contou o organista, que ainda continua a animar os seus amigos e seguidores com os bailes online, até que possa voltar a atuar ao vivo nos centros de portugueses.

“As pessoas gostaram da iniciativa e há até situações surpreendentes, como a de um casal de amigos que mora em Berna e que na hora do direto vão para o jardim, onde têm um abrigo com terraço, fazer uma grelhada com sua família, enquanto assistem aos meus concertos em direto. Já me enviaram vídeos deles a dançar, achei muito divertido”, comentou.

O direto de Victor mais visto contou com mais de 6.000 visualizações. “Estou muito longe de ser uma celebridade, mas também não é isso que procuro, faço isto só porque acho que as pessoas estavam a precisar e assim também me senti mais próximo delas”.

“Sempre me senti muito acarinhado em todas as minhas atuações e, por isso, agora nesta situação em que de um dia para o outro nos encontramos, pensei em retribuir. Digamos que foi uma maneira de lhes mostrar o quanto eu lhes estou grato”, confessa o homem de 48 anos.

Suíça, França, Luxemburgo, Inglaterra, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Brasil, Bélgica e Portugal, claro, são alguns dos países onde tem seguidores.

Victor é casado e natural de Colherinhas, reside em Chalais, no cantão do Valais, desde 1989, onde é operador de máquinas retroescavadoras. Começou a tocar acordeão com nove anos e chegou a atuar pelo Rancho Folclórico de Dornelas, já extinto. Aos 17 anos emigrou para a Suíça, acompanhado pela paixão da música, tendo passado pelo Rancho Folclórico de Sierre, até realizar o seu sonho com a criação do seu próprio projeto musical: “um grupo de música de baile, que nasceu após muitos esforços e trabalho em 2007”. O Grupo Fax, constituído por mim nas teclas, um guitarrista e dois vocalistas, manteve-se até 2015. Formou, depois, o grupo Jackpot, com a sua esposa, que por motivos de saúde teve que abandonar no início de 2019, passando, desde esse momento, a atuar sozinho.

Os “bailaricos” no Facebook têm sido um sucesso, quer para Víctor, quer para David, mas, ambos desejam rapidamente encher de novo as salas de espetáculos na Suíça e em França, respetivamente, e animar os conterrâneos e compatriotas que nesses países residem.

0 Comments

There are no comments yet

Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *