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Covid-19: Oito alunos não têm acesso à internet ou outros recursos tecnológicos

Ensino à distância com “naturais” constrangimentos técnicos e humanos. Trabalho desenvolvido no Agrupamento de Escolas de Aguiar da Beira tem sido “muito positivo”, afirma diretora

O terceiro período escolar arrancou a 14 de abril, mas sem atividades letivas presenciais, à distância. Será assim que os alunos do ensino básico e do 10º ano vão terminar o ano letivo, até 26 de junho. Já os estudantes do 11º e 12º anos vão regressar à escola, a partir de 18 de maio, que vai funcionar em turnos rotativos, três horas de manhã e outras três à tarde. Também, nessa data, abrirão as creches, sendo que as crianças do pré-escolar e ATL vão voltar para a escola a partir do 1 de junho.

Neste contexto de emergência e isolamento social, “o ensino à distância é a única solução viável para continuar a acompanhar os alunos, mas é importante perceber que não substitui a escola”, sublinhou a diretora do Agrupamento de Escolas Padre José Augusto da Fonseca, de Aguiar da Beira, que referiu que “a tecnologia já era usada ao serviço do ensino e da aprendizagem, mas não com esta dimensão nem abrangência, o que coloca naturais dificuldades a alunos e professores”.

“De um dia para o outro, o paradigma mudou: de ensino presencial, em contexto de sala de aula, passou-se para o ensino à distância, com todas as alterações que essa mudança implica. Ora isto significa que houve necessidade de ajustar as práticas às novas solicitações, o que exige muito esforço a todos os envolvidos”, afirmou Elisabete Bárbara.

No entanto, continuou por dizer a professora, “neste processo difícil e complexo, surgiu também a certeza de que estamos todos a aprender com a situação e que há constrangimentos, técnicos, pessoais e humanos, que são naturais neste cenário, pelo que há disponibilidade de todos para um esforço conjunto e permanente, no sentido de prestarmos o melhor serviço aos nossos alunos, dos vários ciclos de ensino e ofertas formativas, para o que contribui o trabalho articulado das diferentes equipas de professores e técnicos”.

A escola “transferiu-se” para casa, funcionando as aulas e o estudo à distância, com recurso essencialmente às ferramentas tecnológicas, e trazendo naturalmente dificuldades para professores, alunos e pais. Apesar dos avanços tecnológicos, no concelho ainda existem muitas pessoas infoexcluídas e as condições à internet são fracas e limitadas, podendo a conta sair cara ao final do mês, numa altura em que se agravam as carências económicas, acentuando-se as assimetrias no acesso à educação.

Segundo apurou o agrupamento escolar, há mesmo “oito alunos que não dispõem de acesso à internet e/ou outros recursos tecnológicos”, mas não ficam sem apoio, garantiu a diretora: “é-lhes feito chegar, pelos meios mais expeditos, tanto em mão como por correio postal, os materiais que os professores indicam para o efeito”. “E o contacto com esses alunos também é assegurado, tendo mostrado os professores, com especial destaque para os diretores de turma e professores titulares de turma, total dedicação e empenho na comunicação com eles e com os encarregados de educação”.

“Os restantes têm acesso online às aulas e ao material de estudo, embora muitos tenham de recorrer ao smartphone, com os constrangimentos que tal implica; quando dispõem de computador, verifica-se também a necessidade de o partilhar com outros membros da família, o que dificulta o processo”, revelou a diretora.

Quanto ao regresso das turmas do 11.º e 12.º anos, num total de 100 alunos, “até à data, o agrupamento ainda não recebeu quaisquer indicações quanto aos procedimentos a seguir”.

“Apesar das dificuldades que a mudança repentina implicou, e da complexidade de que se reveste todo o processo de adaptação às exigências do momento, considero que o trabalho desenvolvido tem sido muito positivo, revelando o envolvimento de todos no acompanhamento das nossas crianças e jovens, fruto da colaboração entre as famílias e os professores, que têm sido incansáveis”, afirmou Elisabete Bárbara.

 

Alunos, professores e pais revelam dificuldades do ensino à distância

Carla Rodrigues tem dois filhos a estudar no agrupamento de Aguiar da Beira, um no 2º e outro no 7º ano. Apesar de morar na vila, onde as condições de rede e internet são um pouco melhores que na maioria das aldeias do concelho, o acesso desta família aos meios tecnológicos e à internet não é o ideal, por isso, os planos de estudo semanais chegam de forma tradicional. “Falamos com a diretora de turma e vou à escola, cada semana, buscar os trabalhos e as fichas para os meus garotos”, revelou.

O João Ribeirinha, aluno do 7º ano, “não se queixa de dificuldades” do ensino à distância, mas confessa que “as aulas não são a mesma coisa, porque a maneira de interagir é diferente”, e, claro, tal como outros colegas, sente “muito a falta da escola física e dos amigos”, percebendo, contudo, porque tudo isto está a acontecer.

Já a mãe, Palmira Ribeirinha, sente que não consegue controlar a parte do seu filho “estar demasiado tempo a utilizar o computador ou o telemóvel para usos que não sejam os escolares”. “Como qualquer criança, gosta de jogar de ver os ‘youtubers’ e, como o Afonso (filho mais novo) é pequeno, não consigo estar muito tempo com ele”, admite.

Quanto a experiência de ensino à distância, esta encarregada de educação de 42 anos, diz “ser uma sobrevivência necessária, um desafio para todos os intervenientes”. “Julgo que os alunos estão a adaptar-se bem, pois têm uma grande facilidade em trabalhar com as novas tecnologias. Os professores do João estão empenhados e o João também é bastante dedicado, pelo que, no geral está a correr bem”, declara.

Tal como o João sente falta da escola e dos amigos, também a sua professora, Sandra Correia, tem “saudades da sala de aula, do olhar dos alunos, dos risos, do barulho, até das brincadeiras inconsequentes. O ensino à distância roubou-nos a essência do ensino-aprendizagem”.

“No entanto, não posso deixar de estar orgulhosa dos meus alunos, adaptaram-se a esta nova escola do dia para noite. Acredito que, para os adolescentes, este período tem sido muito difícil, isolados, longe dos amigos e que se sintam mais frustrados. Cumprirem com o plano semanal das atividades escolares carece de muita organização e força de vontade, e apesar de todos os constrangimentos, estão a conseguir”, conta a professora de português.

Para Sandra Correia “a maior dificuldade deste método de ensino tem sido olhar para a tela e não ver os rostos dos alunos, nas aulas síncronas, uma vez que a grande maioria não liga as câmaras, por proteção de possíveis ataques de cyberbullying. Contudo, consegue “falar com todos eles, garantido que até os mais introvertidos participem nas aulas”. Mas, há sempre um ou outro aluno que falta. “Fico, sempre com dúvidas sobre os motivos dessas ausências”, confessa.

“As dificuldades no acesso à internet são uma realidade no concelho e há alunos que apenas utilizam o telemóvel para concretizarem as tarefas, ou porque não têm computador ou porque outros elementos da família também precisam dele. Com tantas horas, os dados móveis rapidamente se esgotam”.

“A escola quer-se inclusiva, mas receio, que esta pandemia esteja a criar mais desigualdades entre as crianças e os jovens no acesso à aprendizagem. É primordial estarmos todos atentos e procurar soluções adequadas, caso se prolongue este ensino à distância para que a escola continue a ser de todos e para todos”, concluiu.

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