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O abril foi e não volta

Cristóvão Oliveira | Professor e Apicultor

Numa análise de um abril como o que passou é que sinto a falta de ter mais do que uma zona com abelhas. Ter zonas de diferente clima perfaz um benefício que não se consegue usando uma zona só. No meu caso é o tudo ou nada.

Se mais a sul poderia ter néctar a entrar desde há um par de semanas, e de certa forma compensar um pouco outras zonas, no caso aqui de mais a norte, houve neve, não é mau de todo, mas seguiu-se chuva e mais chuva e temperaturas muito baixas para um abril que se queria produtivo.

Por aqui, as colmeias sofreram, e muito. Tenho apiários que foram abaixo com as cinco semanas de vento, frio e chuva, e não irão ter tempo de recuperar. Duas das minhas melhores colmeias colapsaram. Foi desolador ver quilos de abelhas mortas dentro e fora da colmeia. Foi fome, eu sei, mas alimentar em abril, ou ter tempo de chegar a todo o lado são coisas impossíveis, quando o tempo está contra nós. Digo o tempo disponível, mas também o tempo do clima. Outros apiários conseguiram superar as adversidades bastante bem, sobretudo os que estiveram ao abrigo do vento, mas o mel que tinham em março, pouco mais há agora. Que seja um maio regenerador para salvar o ano.

De qualquer forma, no geral o mel que estava nas alças e o mel que teriam feito neste mês deu uma perca para já de 1000 kg aproximados. Este mel já não volta! Poderão as colmeias, no entanto, compensar com as próximas flores… mas para já 2020 será sempre um ano menor.

O que se pode salvar? Os terrenos estão encharcados e têm flores menos comuns por aqui a abrir e para breve. As abelhas rapidamente querem subir para a próxima alça, pois estão com saúde (pouca varroa). Cuidado que este tempo farrusco fez aumentar a taxa de varroa. As silvas chegarão com uma semana de atraso, mas com muita força. O que dará tempo para que os ninhos estejam cheios nas 50% das melhores colmeias com criação a rebentar na altura certa. Aliás, há mais silvas e também têm ar de chegarem cheias de força.

Há sempre, claro, aqueles 25% que dependem da sorte (ou da divindade para os religiosos) de que em junho venham alguns pingos de chuva mágica, que transformariam o verão em algo mais bonito!

No pior cenário seria sempre melhor que o ano passado (em mel)… mas em nada mais! Os enxames recolheram-se e poucos desdobramentos se conseguiu fazer. Não sou apologista de fazer desdobramentos tarde. Dão muito trabalho depois entre verão e próximo inverno para se manterem vivos e saudáveis.

No melhor cenário, seria ainda um anito sofrível por aqui, mas razoável lá para sul, onde não tenho colmeias!

Falta meia volta dos apiários todos e voltarei a entrar em modo “zen”! Pois elas não mostraram necessidade do apicultor durante as últimas semanas. Para já é o ano com mais dias de folga que tenho na memória. Não dá rendimento, mas dá descanso ao costelado.

Descansa o apicultor, fogem as abelhas. Pois, cheguei atrasado e vi um graúdo voar para longe.

 

Cristóvão Oliveira

apibeiras@gmail.com

Edição 119, 9 de maio de 2020

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